Como eu já havia escrito aqui, após os medianos últimos anos de Dexter, a última temporada da série tinha a difícil missão de restaurar o antigamente gigantesco nível de qualidade do programa. Aquele das primeiras temporadas, quando a cada episódio ficávamos mais fascinados pelas idiossincrasias, pelo código e pelas mortes do fabuloso anti-herói Dexter Morgan. Bons tempos. Pois isso nem de longe aconteceu. Nesta oitava temporada, zilhares de erros passados foram repetidos e outros novos se juntaram à lista. De furos absurdos de roteiro a plots completamente descartáveis. Mas tudo pode sempre mudar com um series finale. Ainda havia esperança para um honroso final.
Em seu décimo segundo episódio da oitava temporada, Dexter despede-se do público de maneira inacreditavelmente ruim. Assistir aos últimos 10 minutos deste último capítulo chamado de Remember the Monters? é quase constrangedor. Até mesmo ignorando todos os erros da série, é lamentável saber o que os roteiristas e produtores decidiram fazer com personagens que acompanhamos e nos preocupamos por tantos anos.
Acima de tudo, é triste saber que Debra Morgan morreu sem sequer um dia de espera de seu irmão após entrar em coma, desligando os aparelhos que a mantinha viva com uma pressa inexplicável. Um dia sequer. A morte da personagem já vinha sendo especulada há tempos, mas a execução de tal ato pareceu somente mais uma tentativa apressada e desesperada dos produtores da série de chocarem o público e levá-lo às lágrimas neste final. Não há nada de errado com a morte de Deb, mas com a forma absurda com que ela foi concebida. Não bastasse isso, Dexter consegue remover o corpo da irmã do hospital, levá-lo até seu barco no meio da tempestade para em seguida despejá-lo no mar. No mar. No mesmo lugar onde ele se livrou de centenas de cabeças, pernas e braços de inúmeros assassinos.
E se já havia algum espectador estarrecido (como este que vos escreve) com tais acontecimentos, o que vem depois é ainda mais desconcertante. Após passar quase uma temporada inteira planejando sua fuga para a Argentina com Hannah e Harrison, Dexter esquece de tudo isto e de tudo o que o motivou por tanto tempo e resolve ir de encontro ao olho do furacão que chegava a Miami. É claro que a morte de sua irmã afetou o seu comportamento, mas cometer suicídio? Abandonar o próprio filho? Rita deve ter se revirado no caixão. Não dá pra engolir.
Felizmente (ou não), Dexter também desenvolve superpoderes nos últimos minutos do episódio e consegue sair vivo do centro do furacão (seu barco é despedaçado, mas Dexter sobrevive). A última sequencia da história da série mostra o serial killer barbudo vivendo isolado e trabalhando em uma madeireira. Se Dexter continuou matando pessoas ou um dia decidiu rever seu filho e Hannah? Nunca saberemos.
Encerrada a história da dupla principal, fica a pergunta: e o resto dos personagens? E a relação de Masuka com sua filha? Quinn um dia se tornou um sargento? Como ficou a babá do Harrison nesta história? Pra que diabos a Dr. Vogel serviu nesta temporada? Inúmeras perguntas sem resposta e sem nenhuma necessidade de existirem. Dexter raríssimas vezes soube trabalhar com suas tramas paralelas, quase sempre esquecíveis.
Apesar de tudo isso, o final da um dia aclamada série ao menos esforçou-se para sair de sua irritante inércia e conseguiu construir um clima de urgência no duelo Dexter versus Saxon (que é capturado da forma mais idiota imaginável). A morte do vilão pouco aproveitado também foi um dos ápices deste último episódio, com uma boa química entre os atores Darri Ingolfson (que só sabe arregalar os olhos) e Michael C. Hall. E como já é de praxe, é necessário elogiar a atuação de Jennifer Carpenter como Deb, talvez a única coisa que tenha realmente evoluído nestes últimos anos da série. Uma indicação ao Emmy não seria desmerecida.
Este foi um final decepcionante para uma série que já foi um dia tão grande. Anos mais tarde, Dexter será lembrada por seu protagonista emblemático, o anti-herói e serial killer do bem, e por suas primeiras temporadas fantásticas, enquanto seus últimos anos, e certamente este final, hão de ser esquecidos.
Obs: a cena do flashback do nascimento do Harrison parece a de um filme b indiano. A peruca de Deb e o "bebê de plástico" Harrisson são escancaradamente falsos.
Obs: a cena do flashback do nascimento do Harrison parece a de um filme b indiano. A peruca de Deb e o "bebê de plástico" Harrisson são escancaradamente falsos.
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